Noite de Verão, arraial ao ar livre.
Mas antes, retrocedamos um pouco até à manhã desse dia...
O conjunto tinha actuado na noite anterior numa outra terra, na zona de Condeixa-a-Nova, até às três da madrugada.
Depois de arrumado o material na carrinha e recebido o "cachet", fizemo-nos à estrada até à Beira Baixa, com destino à terra natal do nosso baixista, que fica perto de Inguias, e fazendo tenções de dormirmos umas horas em casa dos pais deste, que gentilmente nos ofereceram alojamento.
Dois elementos do conjunto levavam as respectivas mulheres; e o baixista levava um casal amigo, que ia em transporte próprio - o que foi óptimo para quem quis dormir na carrinha, pois podia estender-se ao comprido no banco traseiro.
Aí fomos nós, revezando-nos no sono e na condução, até que chegámos ao pequeno lugar onde iríamos gozar o nosso merecido descanso, já o sol tinha nascido.
Como havia gente a mais, foi necessário redistribuir-se as dormidas.
Havia uma cama vazia da cave da casa (uma pequena vivenda de dois pisos), que continha uma adega, os sacos de sementes, as alfaias, ferramentas, etc. Apesar da cave aparentar ser inóspita, não hesitei e escolhi aquela cama para mim.
Enquanto o resto do pessoal se arrumava nas outras dependências, eu despedi-me de todos informando que iria dormir. Tal era a soneira que, quando cheguei ao pé da mãe do nosso viola-baixo, eu disse à simpática senhora: "Olhe, D. "Fulana", eu dispo-me já...... ...despeço-me já e até logo".
E lá me encaminhei para a cave, que tinha acesso por uma porta externa.
Ainda fui ao tanque de rega (que, para quem não sabe, é uma pequena "piscina" com cerca de um metro de profundidade) e tomei um "banho provisório".
Depois sim, deitei-me (uuuaaaahhh!) e adormeeeeeerrrrrrzzzzz! rzzzzzz!rrrrTRÁ!TARAÁ!BUM!BUM!BUM!
Acordei sobressaltado, "P*******rra! C********lho! F********-se! Qu'é esta m*******rda???"...
Totalmente desperto, dei-me conta que era... o foguetório da alvorada da Festa de Casteleiro (localidade onde se situa a casa onde estávamos)... TRÁÁÁ!TARARÁÁÁÁ!BUMM!BUMM!BUMM!
Virei-me para o outro lado TRÁÁÁ!TARARÁÁÁÁ!BUMM!BUMM!BUMM! e fechei os olhos, aguardando pacientemente o troar dos três últimos morteiros.
Após alguns minutos de ruidosa espera e para alívio deste "desgraçado" eis que soaram os três sagrados
BUMMM!
BUMMMMM!
BUMMMMMMMM!
Ahhhh, que alívio!!!! Finalmente, adormeci nas paz dos anjos.
Fomos acordados por volta da hora do almoço, para nos banquetearmos com uma bela carne assada - a simpática senhora era uma excelente cozinheira! -, e eis-nos a caminho de Inguias, onde iríamos tocar.
Nessa noite, o nosso baixista, normalmente tão contido e concentrado na leitura das suas pautas (refira-se que ele não tinha ouvido nenhum para a música - como é possível?... - mas era muito certo a tocar, desde que não lhe tirassem os papéis da frente ...), esteve toda a noite a pavonear-se à boca do palco, executando uns curiosos passinhos de dança... (Ok...Estava na sua zona...)
Resultado: daquela viola-baixo saíam frequentes notas que nada tinham a ver com a música...
Nós, os restantes, lá fomos "segurando as pontas" enquanto o nosso "Rudolf Nureyev de ocasião", ignorando olimpicamente os olhares furiosos dos seus colegas, lá ia exibindo os seus dotes de pretenso dançarino para conterrâneos e familiares.
No final, tudo acabou em bem. Demos-lhe o devido desconto, pois um dia não são dias.
... E ainda tínhamos de dormir em casa dos pais dele nessa noite... Pois!...
Visitante
Noite de verão, arraial ao ar livre.
Estava a ser uma noite sem história.
Uma actuação dentro da normalidade de um grupo de baile: todos porreirinhos da vida a tentar tocar o melhor possível as musiquinhas de verão.
Após um sinal para interrompermos o baile, um dos elementos da Comissão de Festas subiu ao palco.
Ir-se-ia dar início a um leilão.
O dito elemento pegou num microfone e preparou-se para licitar a primeira peça, quando um dos seus colegas da Comissão se aproximou e lhe disse algo ao ouvido.
Em tom de voz potente Q.B., o nosso homem anunciou para quem o quis ouvir:
- "SENHOR BLHBLHBLHBLHAA BLHBLHBLHBLHBAA BLHBLHBLHAA AO BAR!!!"
Surpreendidos, os músicos entreolharam-se e sorriram à socapa. O homem tinha uma pronúncia entaramelada e comia as palavras!!! Não se percebia nada do que ele dizia...
Ia haver "festa"...
Chegou a vez de se leiloar uma camisa (... ... naãão, Visitantes, não se ponham com ideias!... Era uma camisa daquelas com colarinho, mangas, botões e tudo!!!).
O festeiro levantou o braço, exibiu garbosamente a camisa dentro da caixa e disse:
- "BLHBLHBLHBLHAA BLHBLHBLHBLHBAA CAMISA... ... É DEEEE..."
... interrompeu-se para avaliar o tecido da camisa...
... e recebeu uma bem-vinda "dica" de dentro do palco: " É DE TERYNÉLE!"
- "...É DE TERYNÉLE", continuou ele, " ESTÁ EM BLHAAABLHAA ESCUDOS!"...
Os músicos, aparentemente a contar anedotas uns aos outros, riam que nem uns perdidos...
- "BLHAA BLHAAA MAIS BLHABLHBLHAA CAMISA... É DE... TE-RY-LE-NEEE !!!"... e, após ter acentuado bem a última palavra, olhou com expressão estranha para o bem humorado grupo de músicos .
Estes não se deram por achados... e continuaram a contar as suas anedotas, até que o leilão terminou, e o baile prosseguiu até às tantas.
Visitante
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.