Madrugada de verão, arraial ao ar livre.
A banda tinha acabado a sua actuação e os músicos começaram a arrumar o material.
(Antes de continuar, quero aqui desmistificar um pouco aquela fama de "lentinhos" dos alentejanos.
Que sejam calmos, isso é verdade, pois é a sua própria natureza. Afinal, não precisam de ser "stressados"...
Mas daí a serem preguiçosos, vai toda a distância do mundo... E, acreditem, sempre que eu ia tocar a terras alentejanas, o público dançava todas as músicas sem descanso - ao ponto de, altas horas da madrugada, as senhoras descalçarem os seus sapatos para poderem dançar mais à vontade!!!!)
Enquanto arrumávamos o nosso material, reparámos num indivíduo sentado junto à porta da capela (o palco estava montado numa disposição perpendicular), encostado à parede, pernas estendidas no chão e a dormir a sono solto.
Até aí tudo bem, tipos a dormir nessas condições após uma noitada são o "pão nosso de cada dia", pois as (muitas) cervejinhas a mais não perdoam...
De repente, reparámos no suspeito riacho que fluía das pernas do moço... e nas calças encharcadas "naquele sítio"... Pois... as muitas cervejinhas a mais NÃO PERDOARAM MESMO...
Não pudemos deixar de rir a bandeiras despregadas com o insólito da situação, enquanto dois ou três elementos da comissão de festas levaram o moço dali sem que ele acordasse.
Como é da praxe, aquele quadro foi objecto de ditos e dichotes entre os músicos durante alguma semanas.
Passados quatro anos, voltei àquela simpática terra, integrado noutra banda.
Alguns dos populares locais vieram ter comigo, dando mostras de me reconhecer. Após algumas palavras de circunstância, não deixei de relembrar aquele episódio.
Resposta pronta, naquele característico sotaque alentejano (que nós adoramos gozar mas sem o qual não passamos): "Oh home, cale-se láááá!!! O gajo apanhou tamanha vergonhaaa naqueles cornooos que nunca mais tocou num copo que fossiii!!!"
Moral da história: quer deixar de beber? Beba umas cervejas a mais, adormeça num sítio qualquer... e espere o resultado para apanhar uma vergonha... hehehehehe
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Meados de Agosto, arraial ao ar livre.
A banda actuou naquelas Festas em três anos consecutivos, mas só tenho histórias insólitas no dois primeiros.
Assim:
No primeiro ano, as condições de estadia dos músicos roçavam a indigência. Tínhamos de dormir em casas particulares que nem água canalizada tinham. Como tal, só nos restava irmos tomar banho ao Rio Coa (na altura, ainda não tinham sido descobertas as pinturas rupestres), para ficarmos lavadinhos...
O Rio Coa, nessa altura do ano, estava com um caudal fraquíssimo, pelo que podíamos tomar banho nos pequenos fundões.
Pois bem, num dos dias em que a banda estava a banhos no Rio, o "tal-músico-de-1m80-de-altura-e-mais-d
Feito o curativo, regressámos ao recinto das festas... e não houve mais novidades nem percalços... a não ser a queima em simultâneo de quatro altifalantes em duas colunas que, nessa altura, eu usava como monitores de palco.... "coisa de somenos importância"...
No segundo ano, as condições já foram diferentes. Pudemos dormir numa residencial em Vila Nova de Foz Coa, o que melhorou substancialmente o nosso espírito.
... Ao ponto de um "tal-músico-de-1m80-de-altura-e-mais-d
Pois... pela cara que o esforçado dono do café fez, eu cá penso que deve ter passado pela sua ideia fazer-me a entrega do galão "via aérea" com copo em versão "míssil teleguiado"...
Mas voltemos à festa...
Nesse ano, cada dia de festa teve a actuação de um artista. No primeiro, um conhecido cantor alentejano, que se fez acompanhar da sua guitarra. No segundo, uma conhecida cantora, hoje tentando ser fadista. E no terceiro, um outro conhecido cantor, também alentejano, que deixou uma indelével marca de tacão de bota num dos estrados do palco...
(Sobre este último cantor, que ainda hoje está na crista da onda, eu devo dizer que não sou grande apreciador do seu estilo... porém, a sua atitude de entrega total em palco granjeou-lhe o meu respeito desde então.)
Mas foi no segundo dia que sucedeu a grande peripécia desse ano.
A conhecida cantora estava a ser acompanhada por uma banda de quatro músicos. Eis senão quando... ouviu-se um típico (e, para nós, músicos, temível) som de "arranhar" nos altifalantes do guitarrista... e a guitarra ficou "sem pio".
(Devo dizer que esse som, por muito "típico" que seja, é também das coisas mais desagradáveis que pode acontecer a um músico: é o som de um cabo a fazer curto-circuito...)
Apercebendo-se da situação, o nosso guitarrista (que era amigo do outro guitarrista), disponibilizou-lhe um novo cabo, que foi prontamente ligado à guitarra e ao amplificador... e nada...
Entretanto, a artista ia cantando e os restantes músicos acompanhando.
Como último recurso, lá substituímos o amplificador do guitarrista da cantora pelo do nosso guitarrista... e a actuação continuou sem mais problemas...
A nossa acção de ajuda a um colega mereceu o reconhecimento público da cantora, que pediu para o nosso conjunto uma salva de palmas.
Foi um gesto que caiu muito bem.
Mesmo assim, tal não impediu que a cantora, ao sair do palco a meio da sua actuação para mudar de vestido, se dirigisse aos bastidores a vociferar a sua frustração alto e bom som (e em linguagem que faria corar um carroceiro...).
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