Quarta-feira, 25 de Abril de 2007

Uma História em Vila Franca de Xira

 

Noite de primavera, arraial ao ar livre.

 

Mais propriamente, véspera de 25 de Abril de um ano qualquer...

 

A banda iria actuar nas comemorações do "25 de Abril", efectuando uma primeira parte de baile, depois o discurso da praxe, após o que se tocaria a "Grândola Vila Morena" de Zeca Afonso, seguindo-se uma sessão de fados com artistas locais, e finalmente a segunda parte de baile.

 

A primeira parte "correu sobre notas", até cerca das 23:30.

 

Foi a vez do discurso, liberdade, democracia, ditadura, conquistas dos trabalhadores, etc. etc. etc.

 

Previamente, um "técnico-daqueles-que-sabem-tudo", com um ar importante, tinha vindo dizer ao pessoal do conjunto que, à meia noite, ele transmitiria através da aparelhagem própria da organização do evento (colocada paralelamente à nossa) o sinal horário da Antena 1 (o "velho" sinal horário de quatro toques longos e um curto que era uma autêntica instituição da Rádio nacional e que, infelizmente, foi substituído por uns quaisquer banais "blips"...), e imediatamente faria soar a gravação da "Grândola Vila Morena" através de um leitor de cassetes.

 

Ok, dissemos nós... e não nos preocupámos mais com o assunto.

 

Após o discurso - que estava bem programado, diga-se de passagem, pois terminou poucos momentos antes da meia noite...  -, ficámos na expectativa do sinal horário.

 

Soou o sinal horário.

 

Momento solene...

 

... e um silêncio sepulcral... nada de "Grândola Vila Morena"...

 

Após uns angustiosos quatro a cinco minutos, lá soou a voz de Zeca Afonso... enquanto os músicos da banda, face ao ar furibundo do agora silencioso orador, trocavam sorrisinhos irónicos entre si...

 

Ouviu-se depois a explicação do "técnico-daqueles-que-sabem-tudo" (agora com um ar não tão importante assim...), dizendo que tinha gravado a cassete com a música de Zeca Afonso, sim... mas esquecera-se de pôr a fita no local exacto...

 

Bom, passada que foi esta peripécia, deu-se início à sessão de fados.

 

Os dois guitarristas contratados para o efeito ocuparam os seus lugares, ligaram-se microfones e cabos...

 

... e desfilaram os fadistas amadores de Vila Franca de Xira, cada um com o seu fado, a sua forma castiça de cantar e o seu atropelo aos compassos das músicas, isto tudo complementado com as expressões de paciência angustiada dos guitarristas enquanto as suas próprias mãos tentavam desesperadamente acompanhar as "fugas em fado menor" de tão garbosos intérpretes...

 

 

Visitante 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sinto-me:
Música: "Tudo isto é Fado"

Publicado por Visitante às 13:27
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Sexta-feira, 13 de Abril de 2007

Uma História em A-das-Lebres (Concelho de Loures)

Tarde de Verão, arraial ao ar livre.

 

A Banda estava em plena actuação, cumprindo um contrato entre as 17:00 e as 24:00, sendo que, a partir das 22:00, alternaria o espectáculo com outra banda que, depois e por sua vez, prosseguiria a sua actuação até às 03:00 da madrugada.

 

Cerca das 19:00,  demos início a mais uma série de músicas, a qual foi destinada a vários instrumentais (valsa, tango, cha-cha-cha, etc).

 

Chegou o momento de tocarmos o "pasodoble".
 

Para quem for leigo/a nestas coisas, esclareço que o "pasodoble" é o tipo de música com que as bandas filarmónicas animam os espectáculos tauromáquicos.

  

Por outro lado, durante as toiradas, é-nos dado assistir aos toques de trompete com que se assinala a entrada dos cavaleiros, dos forcados, dos matadores, dos cabrestos... e, é claro, do TOIRO.

 

Ora bem, retomemos o fio à meada e voltemos ao nosso arraial...

 

Estava eu a dizer que chegou o momento de tocarmos o "pasodoble".

 

O "pasodoble" que nós tocávamos era o "Y Viva España", que começa precisamente com o "tal" toque de trompete "a chamar o toiro"...

 

Pois bem: ao iniciarmos esse "toque-de-trompete-a-chamar-o-toiro"... eis que, em grande estilo, entra pelo arraial adentro a carrinha dos nossos colegas do outro conjunto.

 

Claro está que, pelo nosso lado, a risota foi geral... e as caras de poucos amigos dos nossos colegas, dentro da carrinha deles, valia ouro!!!!

 

 
Visitante

 

 

 

 

Música: "Tourada" (Fernando Tordo)
Sinto-me:

Publicado por Visitante às 15:09
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Terça-feira, 10 de Abril de 2007

Uma História na Serra (Concelho de Tomar)

 

Tarde de Verão, arraial ao ar livre.

 

A banda chegou ao recinto. O material foi retirado da carrinha e transportado para o palco, através de um escadote de madeira que nem grampos tinha para ser preso ao palco.

 

A montagem correu impecavelmente, as ligações também.

 

Iria ser uma noite sem grandes histórias.

 

Ah! E teríamos a presença de uma jovem esperança da música portuguesa, que hoje é já uma certeza, embora os trabalhos dela sejam pouco passados nas nossas rádios.

 

Num à-parte e a propósito,  permito-me criticar vivamente as opções das nossas Rádios quando escolhem uma qualquer Kylie Minogue a cantar "na na na na na na" em detrimento de cantores portugueses absolutamente capazes "do mesmo" (pois, mas assim e a esses a nossa imprensa chama-lhes "Pimbas"...).

 

Iria ser uma noite sem grandes histórias, escrevia eu...

  

Enquanto nos afadigávamos a montar o material, decorria um leilão de fogaças.

 

Esse leilão estava a ser difundido através de altifalantes em forma de "cornetas" - que, normalmente, são colocados em postes altos, de modo a que a aldeia inteira "sofra a bom sofrer" com a sua duvidosa qualidade sonora...

 

Assim, os músicos iam acompanhando a par e passo os valores a que eram arrematadas as fogaças.

  

Uma delas chegou a atingir ... segurem-se bem!... 650.000$00 (actualmente 3.250,00 €).

 

Ora bem, na terra em que uma fogaça foi arrematada por 650 contos, o escadote de madeira que servia para os músicos acederem ao palco estava num estado lastimoso.

 

... a tal ponto que um dos músicos (adivinhem quem... ), num dos seus "vaivens-escada-acima-escada-abaixo", quando estava a descer do palco pelo escadote, sentiu como que o chão fugir-lhe debaixo dos pés.

 

Só teve tempo de dar um salto... mas, devido ao suor, os óculos de 38.000$00 que usava

escaparam-se-lhe da cara enquanto ele fazia um pequeno "vôo picado" na direcção do saibro...

 

... e o pior é que os óculos aterraram primeiro do que o "corpo voador"... e serviram de "aeroporto" ao corpulento músico cadente, ficando partidos no sítio chamado "ponte"...

 

Depois de uma sonora e colorida verborreia, o músico lá conseguiu colar a "ponte" dos óculos, e assim assegurar uma boa visão para o espectáculo dessa noite, na Serra (Concelho de Tomar), onde sobejava dinheiro para arrematar uma fogaça mas faltava para um escadote de jeito...

 

 

 

Visitante

 

 

 

Música: "Upstairs, Downstairs"
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Quarta-feira, 4 de Abril de 2007

Uma História começada em Lisboa e acabada em Cabrela (concelho de Sintra)

 

Mês de Junho, Arraiais Populares de Lisboa, Largo Martim Moniz.

 

Nessa altura, a configuração desta praça não tinha nada a ver com o que é hoje.

 

Aliás, vocês ficariam abismados com as transformações que toda aquela zona sofreu desde os anos 50 até à actualidade. Talvez eu venha a pôr alguma coisa disso no meu outro blog (http://visitante.blogs.sapo.pt/), valendo-me do extenso espólio fotográfico do Arquivo Municipal de Lisboa.

 

Mas até lá, vira o disco e toca a música...

 

Conforme foi dito mais acima, estávamos no mês de Junho e decorriam os Arraiais Populares de Lisboa.

 

O palco estava montado no lado poente da praça (à direita de quem vem da Rua da Palma e se dirige para a Praça da Figueira), e não tinha qualquer cobertura.

 

Pois bem, estávamos nós todos satisfeitos a tocar e o pessoal todo divertido a dançar as marchinhas populares apropriadas ao evento...

 

... quando São Pedro (provavelmente enciumado de tanto falarmos apenas de Santo António) se decidiu a mandar uma daquelas "cargas d'água" só possíveis em plena época estival, que não fazem grande mossa, mas molham! - e de que maneira!!!

 

Choveu durante uns bons trinta minutos...

 

... e como o palco não tinha qualquer cobertura, o material ficou todo encharcado, o que desde logo nos impediu de continuar a actuação.

 

(Valeu aos organizadores que era já 01:00 da madrugada, pelo que não houve grande prejuízo para eles...)

 

Entretanto, eis "cinco gatos pingados", molhados dos pés à cabeça, a arrumarem as suas coisas e maldizendo as suas vidas no mais sonoro e colorido vernáculo possível.

 

No dia seguinte, a banda chegou a Cabrela (Sintra). E chegou BASTANTE MAIS CEDO...

  

... pois, passado um bocado e para quem quisesse ver, a banda estava a dar uma "matinée" extra...

 

... Com efeito, quem naquela tarde passasse pela colectividade da Cabrela, poderia apreciar o espectáculo de cinco maganos em cima de um palco, de cu para o ar, armados de maciças doses extras de paciência e de... SECADORES DE CABELO  nas mãos, assestados aos  instrumentos todos desaparafusados e com as electrónicas entranhas expostas...

 

Felizmente, o material "sobreviveu" à chuvada e os músicos, apesar do "duche extra" da noite anterior, escaparam às gripes (que não as havia "das aves" na altura).

 

 

Visitante

Sinto-me:
Música: "Singin' in the Rain"

Segunda-feira, 2 de Abril de 2007

Uma história em Freiria (concelho de Torres Vedras)

Como nota prévia, devo informar que esta terra "já existia" antes de lá ser gravada a "Floribella"... E a prova disso mesmo é a minha presença no local há alguns anos atrás.

 

Mas vamos à história:

 

Tarde de inverno, na colectividade local.

 

A banda chegou e "assentou arraiais" (que é como quem diz, montou o seu material).

 

Os carregadores transportavam os caixotes contendo tudo aquilo que era necessário para a actuação (sim, porque não basta só cantar meia-dúzia de "pimba-pimbas", é preciso que estes sejam audíveis... e a audição o menos intragável possível...).

 

Os músicos iam trocando as habituais piadas sobre futebol e não só... .

 

Enquanto procedíamos á ligação dos cabos, reparei num moço que estava sentado numa cadeira do salão a olhar para nós.

 

É frequente a presença de elementos (principalmente os mais jovens) das direcções das colectividades nos salões durante a fase de montagem do material. Assim e porque já estávamos habituados, não demos grande importância à presença do rapaz.

 

E pronto...

 

O material estava todo montado, os instrumentos ligados e tudo a funcionar a 100%... só faltava fazermos o "check sound".

 

E começámos a tocar a música que usávamos para o efeito: a canção "I GOT MY MIND (SET ON YOU)", na versão de George Harrison.

 

E foi com os olhos esbugalhados de espanto (pois nada, mas mesmo nada!, o fazia prever...) que vimos o moço saltar da cadeira e começar a rebolar no chão como se fosse um autêntico CHIMPANZÉ a mostrar satisfação e prazer!!!

 

Afinal, não estávamos na presença de um director; estávamos, isso sim, a olhar para um deficiente mental que se deleitava com o ritmo vigoroso daquela música.

 

Em vários anos de bailaricos por vilas e aldeias deste país, nunca tínhamos visto tal coisa...

 

Olhámos uns para os outros... e tivemos de conter o riso, dadas as circunstâncias... mas o baterista, atrás dos seus "tachos e panelas", pode rir-se à vontade...

 

... O pior é que ele, ao atirar a cabeça para trás a rir-se... tombou do banco abaixo... o que soltou o nosso riso de vez.

 

Escusado será dizer que se instalou o caos naquele "check sound"...

 

A imagem mais forte que me ficou daquela tarde foi a do moço a rebolar na sala...

 

E, vista à distância, essa cena, embora insólita, pouca piada teve.

 

 

Visitante

 

 

 

 

 

 

 

 

Música: "Land of Confusion" (Genesis)
Sinto-me:

Publicado por Visitante às 22:29
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